Conjecturas

Aqui compartilho com vocês, algumas ideias sobre cinema, literatura, arte, de modo geral. Não são análises de obras, pois não podemos reduzir nada em único ponto de vista. São conjecturas imaginativas e oníricas a partir do contato com as mesmas…

Sobre um ponto de vista não diagnóstico

Já pararam para pensar sobre a importância de um ponto de vista não diagnóstico a respeito das questões de saúde mental? Muitas vezes, também por preconceito e desconhecimento, percebo que se cria um estigma, um rótulo de “doença” a respeito daquele indivíduo que está em sofrimento. Ou seja, além do sofrimento em evidência, ainda vem este acréscimo de angústia para lidar. Além disso, por outro vértice, percebo que pode ser mais difícil estar aberto às transformações dos aspectos psíquicos, quando a pessoa “abraça” o diagnóstico para não movimentar. Ainda acrescento que falar de maneira mais livre, percorrendo o caminho dos sentimentos e emoções, sem o viés diagnóstica, me parece uma perspectiva mais esperançosa!

Conjecturas sobre Luca (2021)

A animação é uma história muito rica que traz muitas questões importantes para pensarmos. Mas, coloco aqui somente um aspecto que me chamou mais atenção. Em um momento, Luca estava se sentindo incapaz de fazer algo que o amigo Alberto propunha: uma nova aventura, que exigiria de Luca uma abertura para esta novidade e coragem para enfrentar os medos. Alberto, então, diz a Luca: “Silenzio, Bruno!”; Luca fica confuso e diz: “quem é Bruno?”. Alberto conta para ele que existe uma parte dentro da mente dele que fica falando que ele não vai dar conta e que deu o nome de Bruno, mas Luca poderia chamar pelo nome que preferisse. Imediatamente, esta cena me remeteu ao modelo psicanalítico de multidimensionalidade da mente, com várias partes coabitando-a, umas colaborativas, outras que derrubam, resumindo-as assim brevemente para fins didáticos. Não é nada simples e Bion partiu também da teoria da complexidade para falar sobre isso. Impossível não lembrar do modelo de personagens proposto por Ferro! Achei fantástico porque, a partir daquele momento, aquilo fez um sentido para Luca e ele passa a lidar de outra forma com a parte Bruno toda vez que ela ousa amedrontá-lo, além de poder despertar a condição sonhante. Me parece que pode fazer uma diferença grande para uma criança com a mente em construção – e para os adultos também – se aprendem a não serem tão rigorosos consigo mesmos ou se colocarem tantos empecilhos. Todos temos esses Brunos dentro de si, mais de um, eu diria, e cada um escolhe os nomes que preferir. Nas sessões de Psicanálise Contemporânea, abre-se possibilidades para aprofundamentos nestas partes não desenvolvidas da mente para que não tomem conta do todo e causem, por exemplo, as paralisações. Se Luca não tivesse silenciado Bruno, teria ele vencido estes desafios? E por aí, como estão as partes da mente?

Sobre o atendimento remoto

Iniciei os atendimentos online no período da pandemia, mas estar aberta a esta experiência e seguir estudando muito, possibilitou a continuidade do trabalho pela tela com bons frutos. O psicanalista Antonino Ferro, em um artigo de 2021, ressaltou alguns pontos sobre o atendimento online, inclusive que, as nossas características e condições analíticas (setting “interno”) enquanto profissionais da psicanálise e ter meios de aproximar do mundo e emoções do paciente, independe de o atendimento ser remoto ou presencial, desde que haja disponibilidade de ambas as partes da dupla analítica composta por analista e paciente! Dessa forma, e sustentada em muitos outros aspectos que não cito aqui para não delongar muito, sigo atendendo nesse formato. Se quiser saber mais sobre, entre em contato!